A Copa da conscientização - O grande legado pode ser a mobilização da sociedade.

Surpresa com o futebol brasileiro nestes dias que antecedem a Copa do Mundo: sobram contratações, movimentações para todo lado e até demissões de diretores, como é o caso do Flamengo, o mais tumultuado ao fim desta fase. Em São Paulo acontece a mesma coisa com Corinthians e Palmeiras, principalmente o “Verdão”, que trouxe um técnico da Argentina. Sensível à onda de estrategistas portenhos ou o novo caminho para escapar do círculo vicioso da “panela” brasileira, que chegou ao esgotamento com a repetição de nomes de comprovada incompetência? O Tricolor tratou de remodelar-se com antecedência, seguindo sua tradição de clube organizado.
No Rio de Janeiro, uma espécie de Fla-Flu instigante, com opções opostas, contraditórias, conflitantes mesmo. O clube mais popular cobrando ingressos caros, o Tricolor carioca afagando a “massa”. O Fluminense, nos últimos dias, partiu para contratações expressivas, disposto a duelar com o Cruzeiro, pelo menos em tese, o que no futebol não vale tanta coisa, mesmo sendo o planejamento reconhecidamente o fator principal. Um elenco de qualidade, que Cristóvão pode levar ao título do Brasileiro.
O Flamengo, por seu lado, nunca esteve tão desnorteado. O dirigente demissionário contratou uma comissão técnica que já se desgastou e tem 45 dias para corrigir seu rumo. Situação complicada também a do Botafogo e de grande parte de outros times; assusta como clube, paga um dos três meses de atraso. Tudo faz crer que só pode ser resolvida com a tal Lei de Responsabilidade Fiscal, que parece sair no embalo da Copa.

A presidenta Dilma encontra-se com jogadores do Bom Senso, conforme o prometido, e declara empenhar-se, além desse projeto, em medidas pela democratização do Esporte, pela Segurança nos estádios e na criação de um Grupo de Trabalho pelo Desenvolvimento do Esporte com representantes de todos os setores interessados. Fala-se ainda numa Agência Reguladora: ideias interessantes e perigo de burocratização.
Chegamos à semana de abertura da Copa com o fim dos dois últimos jogos antes da estreia esperada com ansiedade maior a cada dia. A esta altura, fica cristalizada a estratégia de Scolari para a Copa em casa. Tomar a iniciativa do jogo com marcação avançada e tendo pelo menos um volante como fiel da balança entre o ataque e a defesa, fechada com a intenção de não tomar, se possível, nenhum gol. Felipão firmou Luiz Gustavo desde o começo e tem reserva para manter o formato. “A partir daí nosso time faz pelo menos um”, diz o capitão Thiago. Fernandinho pode surpreender no desenrolar do Mundial.
Talvez isso explique a crise do treinador nos últimos dias, pela primeira vez se exasperando com os espaços livres deixados entre os setores da Seleção Brasileira. Jogadores certamente se poupando com a proximidade da estreia, mas o gauchão saiu do sério. Mostrou seu lado instável quando pressionado. Esse é o nosso risco, além de não termos um atacante aberto, para a eventualidade de estarmos em desvantagem no placar e a necessidade de penetrar em defesas trancadas. O Brasil com carência de atacantes, quem diria. A ausência do Lucas faz pensar na razão disso. Algum problema de comportamento? Bernardo é a opção, embora seja o jogador que menos tem atuado. Ocorre a lembrança de Neymar não ter sido relacionado no Mundial anterior e, mesmo com a experiência acumulada nestes anos, estar sendo tão sobrecarregado. Riscos todos correm, ainda mais nessa fórmula do Campeonato Mundial com fases eliminatórias. Vamos em frente. Apesar de não ter visto nada anunciado em relação ao encontro de lideranças dos jogadores no âmbito internacional, certamente elas deverão existir. Iniciativas com aspecto oportunista têm sido anunciadas em relação aos horários desumanos de alguns jogos que temos assinalado neste espaço.
O grande legado da Copa de 2014 é a oportunidade de mobilização da sociedade, da juventude em especial e a ocasião de ampliar a consciência da necessidade de atuação política em todos os níveis para evoluir na resolução das diferenças e afastar a violência, como ensina o poeta José Carlos Capinam. “Ao povo, lúcido de estar sempre obrigado a me corrigir, para poucas vezes ser inconsequente na participação de sua luta contra o desespero e a falta de liberdade enquanto ocorram”.
P.S.: Nossa homenagem sincera a Joel Camargo e Marinho Chagas, dois eternos campeões.

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